2005, foi um ano diferente. Eu iniciava na faculdade e, pela primeira vez, eu assistiria o Grêmio jogar uma segundona. Já nos primeiros dias como calouro pude sentir na pele a corneta dos novos amigos colorados: "bi rebaixado"!, diziam, cada vez que eu aparecia com a camiseta do tricolor. A minha defesa: o Grêmio é também Bi da Libertadores e Campeão Mundial.
E para pagar o curso (a metade da mensalidade), eu havia conseguido um serviço como entregador de jornal. Entregava de bicicleta diariamente a ZH, numa jornada que durava a madrugada inteira. Da 1 às 5. Credo. O bom era que eu podia ler as notícias do tricolor. Ainda mais num tempo que não haviam smartphones. O lado ruim, fora o horário, era o jornal do domingo. Aquela bosta não entrava por baixo das portas, não cabia nas caixinhas do correio... era preciso desencartar... às vezes, na raiva, azar. Fincava de qualquer jeito, à força e que se exploda! Eu já tinha lido. Mas o mais engraçado, era atirar nas janelas e gritar, bem alto só pra debochar de quem naquela hora estava dormindo: olha a Zero!!! PAAAF! Não durei muito, é claro. Principalmente quando me botaram para entregar o jornal nas vilas. Minha sorte foi que arrumei um estágio pelo CIEE pouco tempo depois disso, como cobrador numa rede varejista. O "soldo" era de 300,00 pilas mensais. Detalhe que a mensalidade, os 50%, me custavam 238 pilas desses 300 aí. O restante deveria cobrir gastos com transporte, apostilas... evidente que não chegava.
Neste 2005, o marketing do Grêmio deu uma acertada. Talvez, como forma de se desculpar pelo rebaixamento (coisa que não existe), o clube fechou uma parceria com a Puma. E as camisetas eram magníficas. Não à toa, a tricolor foi eleita a mais bonita do mundo. Mas uma outra, jamais vista, foi criada. Uma toda preta. Foi chamada de "shadow". Poucas unidades, ao menos foi esse o papo. Só que ela deu tão certo que venderam muito. Tanto que a refizeram em anos seguintes. E em maio de 2005 eu completaria 20 anos. E de presente de aniversário ganhei, mais uma vez da mãe, essa camiseta. Ela sabia que, mesmo com meu "soldo", eu não tinha condições de pagar isso por uma camiseta do Grêmio. Não à vista. Esta camiseta custou na época 150 pilas; foi paga em suaves 3 prestações. No cheque! Ali na Perusso, leia-se, seu Roque. Nunca vi outro comerciante feito este homem. Ele queria vender. Não importava como. Atirava o primeiro cheque para 90 dias; e os demais sucessivamente.
E essa é a história de como adquiri mais uma camiseta do Grêmio. A terceira delas. Esta camiseta tem muita história para contar. Com ela, muitas vezes fui ao Velho Casarão. Devido à isso, é muito especial para mim. E um amuleto da sorte! Com ela assisti todos os jogos da Libertadores 2007. Contra o Santos e contra o Boca, ela se fez presente no Monumental. Uma pena que a virada naquela ocasião era algo muito difícil, até mesmo para ela.
Hoje, 2022, mais uma vez o Grêmio jogará uma segundona. Espero que o marketing do clube acerte novamente e nos traga um manto tão bonito quanto o de 2005. Certamente, se acertarem, vão vender aos montes! Pois é assim o gremismo: contigo na boa, na ruim, muito mais!