Havia um trabalho de faculdade para ser feito que foi marcado para aquela tarde, naquele dia 26. Era um sábado e, por ser um trabalho em grupo, não poderia ser remarcado. Porém, no mesmo dia seria jogado o quadrangular final da Série B de 2005.
Se não me falha a memória até o momento, eu havia frequentado muito pouco a casa do Tiago, um dos colegas de turma. O detalhe que ele, como toda a sua família é colorado. Os outros dois colegas eram gremistas, o Gustavo e o João. A previsão era de que em duas horas o trabalho fosse elaborado, mas entre Coca-Cola, teclado e Elma Chips a coisa postergou e logo o jogo do Grêmio começaria. Combinamos então, de ver a partida ali mesmo. Num reduto de colorados. A sala era ampla, havia lugares para todos. Mas eu ainda estava desconfortável. Até ali, os meus amigos e colegas de faculdade não tinham noção do meu fanatismo. Menos mal que no decorrer da partida vi que os outros dois gremistas eram tão loucos quanto eu.
Não consigo lembrar com exatidão, mas o seu Ramão, pai do Tiago, não estava na sala. Coloradíssimo, lá de Itaquí, ele não quis ver a partida. Ao menos eu pensei isso. Mas a sua filha Rafa, estava junto do irmão na secação. Mas na hora do primeiro pênalti a favor do Náutico, ele apareceu no canto da porta para dar uma secada. Nessa altura o meu descontrole emocional já tomava conta. Palavrões saltavam da minha boca em direção a TV, eu pouco me importava do lugar onde estava. E no momento que a bola explodiu na trave foi um gritedo ensurdecedor. O anfitrião e secador desapareceu do local. Gente muito boa, o seu Ramão.
O jogo seguiu, encardido. O Grêmio já jogava com um a menos, faltavam poucos minutos para o final da partida. Com o empate o Grêmio voltaria para a Série A, mas perdendo permaneceria na B, pois no outro jogo o Santa Cruz fazia o dever de casa. Eis que então o lance que mudou a história daquele jogo. Outro pênalti em favor do Náutico. Deus do céu. O peitaço de Patrício desencadeou uma revolução campal. Desta vez não era apenas eu o descontrolado, mas João e Gustavo também xingavam sem parar a televisão, como se aquela tivesse alguma culpa. Foram outras 3 expulsões. Haviam 7 em campo. Mas sem dúvida (pois me contaram depois, que a mãe do Tiago queria saber de onde raios veio aquele guri que não parava de xingar, gritar) era eu o mais alucinado. Eu brigava. O seu Ramão apareceu novamente e começou a tirar sarro. Eu estava louco, espumava. E o homem dava risada e aquilo me deixava mais cego de raiva. Eu, sinceramente não sei o que dizia. Mas lembro perfeitamente que eu dizia para que não deixassem bater o pênalti, tamanho era o meu desespero. Mas não havia jeito, eu sabia. Restou apenas, rezar. Quando Ademar partiu para a batida, chutando para a esquerda de Galatto e, quando o goleiro pegou o penal com a perna direita... Jesus. A histeria tomou conta de uma forma. Eu nunca na vida me senti daquele jeito. Saímos porta a fora gritando, berrando, xingando. Caímos abraçados pela garagem. Foi surreal. Parecia um sonho ruim, que do nada ficou bom. Poucos tempo depois disso, ao voltarmos em êxtase para a sala, (o seu Ramão sumiu de novo) um jogador do Náutico havia sido expulso. "Tá expulso o Batata!". Na cobrança rápida, Anderson recebeu a bola e aí, todos já sabem. O mundo inteiro soube. Bom. Na hora do gol, eu já não sabia mais de nada. Nem onde estava. Mas não parecia estar na Terra. Lembro que saímos da casa do Tiago, não lembro se ele veio junto. O João tinha um Fusca. Embarcamos rumo a carreata. O Grêmio ali conquistou a Série B de forma heroica, com 7 jogadores em campo (apesar de que, hoje, num contexto mais amplo e filosófico tudo isso possa ser resumido a fiasco na opinião de muitos gremistas, inclusive).
Há zar! Deixo aqui um vídeo daquele dia que com certeza foi um divisor de águas na história do Grêmio. Um jogo que para sempre será lembrado, pelos prós e contras. Para que o ocorrido também não se repita. Um jogo que serve de lição para qualquer tipo de torcedor. O jogo só acaba quando termina.